quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Numero 344


Abro o boletim desta semana com uma imagem, publicada pela Folha de São Paulo. Por meio deste gráfico podemos confirmar o que a própria Folha, o Estadão, o Globo e a Veja tanto nos avisam: o PT é o mais corrupto partido político brasileiro. Vejam que de 317 candidatos ficha-suja, ele tem... 18!!!! E olha só o PSDB e o DEM com seus aliados do PPS... só tem 81....



(para quem não entendeu... o comentário acima está recheado de ironia!)


Semana passada eu andava incomodado com uma notícia e ia comentar aqui, acabei esquecendo. Mas fica a ressalva, e o primeiro artigo completo de hoje já respondeu a minha dúvida: era só eu que estava achando estranha a quantidade de incêndios em favelas de São Paulo?  Além deste artigo, há links para mais dois, na segunda parte do boletim.



ARTIGOS COMPLETOS

Os incêndios em favelas, o STF, as coincidências e a causalidade
Jorge Luis Borges dizia que quem acreditava em casualidades, não sabia da lei das causalidades. Será? Neste caso, haveria, então, explicações para tantas coincidências; ou não? Mais uma vez, com a palavra a história, ou se quisermos, a verdade histórica, se é que isso exista.
Enio Squeff (WWW.CARTAMAIOR.COM.BR)
Os incêndios que destruíram mais de vinte favelas em São Paulo, talvez confirmem as versões veiculadas, até agora, de que tudo aconteceu por acaso. Os historiadores da arte, que têm muito mais meios para investigar certos eventos, costumam registrar acasos e coincidências em praticamente todas épocas; o cubismo de Braque e Picasso, por exemplo, podem, de fato, ter nascido na mente dos dois artistas - mas há quem diga que as coisas eram inevitáveis; ambos os pintores eram próximos, um freqüentava o ateliê do outro, mas muito de suas obras mostravam evidências que apontavam para a mesma direção. A destruição de favelas não tem nada a ver com a arte, certamente. Mas é uma evidência que alguém lucrará com os numerosos terrenos, por fim, liberados de famílias com seus parcos direitos, subitamente transformados em cinzas. O Supremo Tribunal Federal tem sido exemplar na conclusão de que as evidências falam por si. Como dizia e diz a escolástica da Igreja, as evidências existem em si mesmas, não precisam ser provadas.

São mundos paralelos, parece. Diz-se dos artistas que seriam sensores da raça: eles pegariam as coisas no ar e as transformariam em música, em quadros, em livros. Os agentes da construção civil são sensores das oportunidades - desde que existam terrenos baldios - aparentemente sem donos - há que aproveitá-los para os bons lucros. mas também para o consenso, principalmente brasileiro, de que a indústria da construção civil é a maior geradora de empregos para a mão de obra não especializada. Coincidências de fatos, coincidência de fatores.

No fundo, talvez, se esteja no mundo das conjeturas. Aqui e ali elas aparecem para confirmar - ou não - certas evidências. É o que tem valido, parece, inclusive para o STF no julgamento do mensalão: certas evidências prescindiriam de provas. Não foi o que valeu para a condenação do ex-presidente Collor, que foi absolvido - mas é, enfim, o que pode valer agora contra aqueles com que a grande imprensa acedeu ao Procurador Geral da República - de que os "mensaleiros"seriam os maiores criminosos do Brasil.

Há, é certo, algumas centenas de acusados e esperar por sentenças condenatórias já há anos e por terem se apropriado não de 50 mil reais, como aconteceu com um deputado - o primeiro a ser punido por causa do mensalão - mas por terem roubado bem mais que milhões. Inútil mencioná-los: cada brasileiro tem algum nome na sua lembrança. Tudo leva a crer, porém, que há a coincidência de o julgamento acontecer às vésperas das eleições municipais. E que isso deve valer também como um feliz acaso - aquele de que a grande imprensa tenha praticamente exigido a realização de um julgamento nesta época do ano; e com uma pressa talvez nunca havida antes na história do Judiciário deste país.

Foi, a propósito, mais ou menos o que teria concluído o ministro Joaquim Barbosa. Ao ser questionado por uma jornalista por que não julgar um mesmo crime que teria sido cometido anos antes, por um outro partido, em Minas Gerais - não em Brasília - ele teria respondido que é assim mesmo; que o Supremo Tribunal fora obrigado pela grande imprensa - leia-se "opinião pública"- a proceder a um juízo praticamente exigido, imposto, portanto, à Suprema Corte. E daí as justaposições.

Muitos musicólogos vêem coincidências inauditas entre certas composições quase que saídas à mesma época em diferentes países.Por exemplo: há quem adivinhe que em algumas sinfonias assinadas por Beethoven, existam coincidentemente, certos procedimentos muito parecidos com as de um compositor chamado Méhul (Etienne Henry Nicolas, 1763-1817), e que foi um dos expoentes da música engajada da Revolução Francesa. Não há nada que indique, diga-se em tempo, que o STF esteja se deixando influenciar pela mídia hegemônica a propósito do caso chamado "mensalão". Haveria apenas uma mera conjugação que as vagas acusatórias contras os membros de um partido, feitas pela mídia, devessem ser devidamente levadas em conta pela Suprema Corte e que ela . afinal, decidisse levar a coisa avante com uma rapidez nunca vista antes. No fim das contas, haveria uma grande coincidência entre o desejo da mídia e o animus da Corte Suprema do Brasil.

Assim também com os incêndios nas favelas da paulicéia. "Nunca dantes na história"de São Paulo aconteceram tantas queimas de barracos num único período de alguns meses. Tudo seria obra do acaso. Há, realmente, que se considerar a seca, os numerosos "gatos" como se dizem das ligações clandestinas feitas nas favelas. E o resto seria, então, a confluência de alguns fatores, como o vento forte, o descuido - essas coisas todas que fazem da história também uma errância imprevisível, sem o que nem porque.

Em meio a tantas combinações casuais, quem sabe se devesse, também, pensar na Providência Divina. Dever-se-ia a ela, apenas à Providência ,uma concordância nunca havida com tanto celeridade entre os membros do Supremo Tribunal Federal no caso específico de um único processo.

No tempo da Inquisição, era o que contava e muito. Se o acusado, jogado num poço profundo, com pesos, afundasse irremediavelmente, ficava claro que a Providência era que o fizera mergulhar no abismo. E na morte. Se acontecesse o contrário - eis que o milagre valia ao acusado contar com as benesses do Santo Ofício. Deus o tinha absolvido - era tão somente um milagre. Nem mesmo uma coincidência. Digamos que seja isso também que esteja acontecendo com as favelas de São Paulo. De repente, - por coincidência, ou por desígnios divinos, - há como que, por combustão espontânea- um curto circuito, uma faísca. Pronto, o resultado pode ser o inesperado - algumas mortes ( que se vai fazer...), mas a queima rápida de casas, pessoas, e tudo mais.

A escritora norte-americana Suzan Sontag contava que levou um susto quando leu "O Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis. A história de um sujeito já morto que conta a sua própria vida, ainda que desde o fundo da sua tumba, era exatamente o argumento que ela tinha escolhido para fazer um romance. Garantia que foi por acaso. Não é de se descrer; ao descobrir a coincidência, a escritora norte-americana dizia com toda a sinceridade, que a versão de Machado era muito melhor que a dela.

As coincidências entre o que quer a mídia e a decisão do Supremo Tribunal Federal, de julgar o mensalão, casualmente, antes das eleições transparecem de fato o que talvez sejam- justamente apenas questões de querências - a da grande imprensa, de que um partido seja punido, embora as provas sejam principalmente evidências e não mais que isso. Quanto ao Supremo - bem ele tem lá as suas razões. Assim como os incêndios de favelas sugerem muitas causas, talvez não caibam ilações. Tudo se dá por obra do acaso. Como se dá entre Mehul e Beethoven. Ou entre Picasso, Braque e o cubismo.

Jorge Luis Borges dizia que quem acreditava em casualidades, não sabia da lei das causalidades. Será? Neste caso, haveria, então, explicações para tantas coincidências; ou não? Mais uma vez, com a palavra a história, ou se quisermos, a verdade histórica, se é que isso exista.

Enio Squeff é artista plástico e jornalista.


Email prá lá de importante que recebi de minha ex-aluna Cléria, hoje fazendo mestrado em Portugal:
Olá Prof. Ricardo, bom dia!
Passo para dar-lhe notícias sobre o ano lectivo de Portugal, o qual não é dos melhores.
Pra já,  mais de 40% dos professores activos estarão sem aulas nesse ano e mais de 400 alunos sem vagas no ingresso escolar. O país não está nada famoso em termos políticos, económico e inclusive social.
Os professores que conseguiram permanecer no quadro escolar foram convocados e, para além de suas respectivas escolas, terão de ir trabalhar em outras, que geralmente são afastadas uma das outras e das quais outros foram dispensados.
Ou seja, vão trabalhar em dobro e ganhar menos, claro.
Na sexta feira, o então primeiro ministro Pedro Passos Coelho, anunciou à população mais uma medida de austeridade após a visita da Troika.
Desde o ano passado foi anunciado vários cortes nas funções públicas e aumento de impostos sobre estes, tal como perda do subsídio de férias e de natal (Décimo Terceiro salário no Brasil). Para este ano cívico, a medida foi ainda mais surpreendente, pois no sector privado, os funcionários também deixarão de ter esses benefícios que possivelmente um deles será permanente para todos. Se pagavam 11% de Segurança Social, agora serão-lhes descontados 18% deixando os patrões com menos 7% deste encargo. Isso no total anual, perderão  mais de uma salário além das perdas já descritas. Os reformados e pensionistas perderão os benefícios sociais (férias e natal) e terão que contribuir, de novo, para seguridade social.
Entre estes cortes, deixo de apontar os aumentos do custo de vida, modificação na estrutura da saúde e segurança públicas, pois a lista será imensa.
Os ânimos por cá não são dos melhores. Assim como começou mal para o ano escolar é também para o ano cívico.    
Como a nossa conversa começou com a educação, informo que ainda estão modificando a estrutura curricular para o qual aumentará o número de horas aulas para a Língua Portuguesa, Matemática, História e Geografia como também, uma outra língua estrangeira fará parte do programa educacional e formação tecnológica,sendo que essa não se sabe, ainda, como será aplicado.
No ano passado, quando já acontecia o fechamento de escolas nos municípios fora de Lisboa, houve um grande protesto de professores que perderam os postos de trabalho. Incrivelmente, Passos Coelho, em resposta via televisiva, "aconselhou"-os a emigrarem para os países de língua portuguesa, especificamente para o Brasil e Angola que, conforme notícias chegam aqui, estão em ampla ascensão  económica. E, o que se vê nas faculdades de economia e gestão (na qual trabalhei em uma delas) a cartilha académica consta como investir nos países em desenvolvimento, os quais destacam o Brasil, Angola e China. No caso do Brasil, tenho tido notícias de que, mais de quarenta empresas estrangeiras estão adentrando no mercado brasileiro com muita facilidade, dando a impressão que os próprios brasileiros não são capazes de um investimento de grande proporção nos muitos sectores de grande consumo. Inclusive tecnológico. Pelos vistos, o governo brasileiro desconsidera a possibilidade de um mercado nacional forte que sustente essa necessidade.
Ainda sobre a emigração portuguesa, Passos Coelho tornou-se assunto nos programas humorísticos de televisão ao dizer que a emigração é necessária para se conhecer novas culturas. Como forma de protestar essa infeliz forma de "conhecer novas culturas", os humoristas andam noticiando que os portugueses não precisam de emigrar para tal propósito pois, com a presença de angolanos e chineses aqui, que estão comprando dívidas e acções do pais, já trazem com eles o ensino das suas culturas.
Inclusive, quando eu voltar para o Brasil, gostaria imenso da vossa opinião sobre um livro que gostaria de escrever acerca da minha experiência aqui em Portugal sobre o profundo  preconceito que os brasileiros sofrem aqui. Contando ninguém acredita. Principalmente sobre as mulheres brasileiras que são tidas com o pior dos conceitos  que se pode pensar.
Já agora, estou preparando-me para a defesa da minha tese que realizar-se-a no próximo dia 20, quinta feira da semana que vem.
Já tenho um síntese para si. Entretanto vou dar uma melhorada nela e enviar te até sexta feira próxima.
Bjs,
Cléria
(a propósito deste comentário da Cléria, leiam, na segunda parte,  o artigo com a faixa do protesto que ocorrerá em Portugal no dia 15)


Conheci Theotonio dos Santos em 1982, quando ele regressou do exílio e ajudou a criar o PDT, o partido que tinha o Brizola como líder. Naquele ano, iríamos ter a volta das eleições diretas para governador, e ele foi o candidato do seu partido. Eu era professor do terceiro ano do ensino de 2º grau do colégio Promove e organizei um debate entre os candidatos. Salvo engano, o único candidato que compareceu foi o Theotonio. Os outros mandaram representantes, ou os vices. E, ao falar para os alunos, acompanhado da Vânia Bambirra, ele se emocionou com a pergunta de um aluno cuja família se exilara de Angola e viera para o Brasil, era um exilado, portanto. E narrou alguns episódios do exílio dele. E o que mais emocionou a todos foi a morte de uma companheira, que, olhos marejados e com dificuldade até para falar, disse ao Theotonio e aos amigos que estavam com ela: “Eu nunca mais vou poder chupar jabuticabas!”
Com sinceridade, eu nunca vi uma declaração de amor ao Brasil tão singela e tão bonita! Theotônio  e Vânia não conseguiram segurar as lágrimas e eu vi vários alunos e alunas enxugando discretamente os olhos. Foi muito emocionante aquilo.
Por que estou falando disso hoje, 30 anos depois?
Porque, vendo alguns dos blogs “sujos”, deparei-me com uma carta aberta escrita pelo Theotônio e endereçada ao Fernando Henrique Cardoso, amigo dele e companheiro de exílio. Não consegui resistir à tentação de reproduzir a carta aqui:
Meu Caro Fernando,
por Theotonio dos Santos (*)
Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos anos 1960.
A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete contudo este debate teórico. Esta carta assinada por você como ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão. Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação.

Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo. Já no seu governo, vários estudiosos discutimos, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população. Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população. (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhes recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependência: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000). Contudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta.O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartilhar com você… Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário. No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo, próxima dos 10% mais altos. TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO. E aqui chegamos no outro mito incrível. Segundo você e seus seguidores (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito) sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte. Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros deveriam sair do país antes de sua desvalorização, O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar. E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula”. ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese? Conclusões: O plano Real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999.
Segundo mito – Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese. Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade. E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo. Um governo que chegou a pagar 50% ao ano de juros por seus títulos para, em seguida, depositar os investimentos vindos do exterior em moeda forte a juros nominais de 3 a 4%, não pode fugir do fato de que criou uma dívida colossal só para atrair capitais do exterior para cobrir os déficits comerciais colossais gerados por uma moeda sobrevalorizada que impedia a exportação, agravada ainda mais pelos juros absurdos que pagava para cobrir o déficit que gerava. Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre. Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou drasticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo. Vergonha, Fernando. Muita vergonha. Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identificar com o seu governo…te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana.
Terceiro mito – Segundo você, o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula. Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas. Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS. Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição os 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID. Tudo isto sem nenhuma garantia. Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida. O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida. Não tem nada a ver com a ameaça de Lula. A ameaça de Lula existiu exatamente em consequência deste fracasso colossal de sua política macroeconômica. Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já copado. A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações. A loucura do endividamento interno colossal. A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras. Os juros mais altos do mundo que inviabilizavam e ainda inviabilizam a competitividade de qualquer empresa. Enfim, UM FRACASSO ECONOMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas. Uma dívida sem dinheiro para pagar… Fernando, o Lula não era ameaça de caos. Você era o caos. E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criaram para este país.
Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso fazê-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entrou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente. Lamento muito o destino do Serra. Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política. Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história como um episódio de reação contra o verdadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora. Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês (e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a frequentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.
Com a melhor disposição possível, mas com amor à verdade, me despeço.
(*) Theotonio dos Santos é economista, cientista político e um dos formuladores da Teoria da Dependência. E é coordenador da cátedra e rede UNU-UNESCO de Economia Global e Desenvolvimento sustentável – REGGEN.


VALE A PENA LER







A matemática de Clinton obriga Serra a falar do mensalão
Bill Clinton, que os tucanos adoram, disparou a seguinte aritmética na convenção que aclamou Obama a buscar um segundo mandato na Casa Branca: "De 1961 para cá, os republicanos governaram o país por 28 anos, e os democratas, por 24 anos. Nesse período, foram criados 66 milhões de empregos, assim: 24 milhões pelos republicanos e 42 milhões pelos democratas". Curto e grosso, Clinton atingiu o fígado adversário.

Se fosse manejar a mesma aritmética demolidora no Brasil, Clinton ( que os tucanos adoram, repita-se) diria o seguinte: "De 1994 para cá, o PSDB governou o Brasil por oito anos, e o PT, por 9 anos e meio --8 de Lula, e um ano e meio de Dilma.Nesse período, foram criados 18 milhões e oitocentos mil empregos: 800 mil pelos tucanos; 15 milhões por Lula (* 11,1 milhões no saldo do período) e 3 milhões por Dilma".


Leitora da Folha se espanta ao descobrir que PSDB é o partido campeão dos fichas-sujas. Ué!




Mídia, obstáculo à democracia
Marilena Chauí argumenta: sociedade democrática exige muito mais do que pensam os liberais; imprensa brasileira aferrou-se à defesa de privilégios e poder oligárquicos (Imagem:
Matt Sesow)
A limpeza pelo fogo nas favelas de São Paulo
Temos um constante Pinheirinho na cidade, mas como segue a conta-gotas, não vira manchete. Banalizou-se, como a corrupção ou a superexploração do trabalho. Por Leonardo Sakamoto, em seu blog
Nova crise alimentar: o papel de um modelo falido
Muito mais relevantes que a seca, nas dificuldades de abastecimento, são agrocombustíveis,  concentração fundiária, controle da produção por megaempresas e uso indiscriminado de agrotóxicos e transgênicos. Por Sílvia Ribeiro, na Adital
A próxima reviravolta no Oriente Médio
Immanuel Wallerstein prevê: Palestina reocupará centro do debate internacional, por ação surpreendente do Egito e para desconforto de Washington, Telaviv e Riad
Europa: outro imenso passo atrás
Novo pacote imposto à Grécia reduz, além do salário-mínimo, fins-de-semana e férias. BC quer submeter mais países a choques.
Por Antonio Martins

Em Havana joga-se o futuro da Colômbia
Governo e guerrilhas parecem aceitar, finalmente, a paz. Reivindicada há muito pela sociedade, ela precisa assegurar terra aos camponeses. Por Héctor Alonso Moreno


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